A crise imobiliária de 2008: passado e presente

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Por Maristella Arifi | Bricksave

Agosto 25, 2023

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O colapso de alguns bancos americanos (incluindo o Silicon Valley Bank) no início deste ano, trouxe de volta algumas lembranças dolorosas da crise financeira de 2008. Mas essas comparações são justas e os investidores devem se preocupar com o setor imobiliário dos EUA? Este artigo explora as diferenças entre o passado e o presente.

Apesar de ter sido há 15 anos, a crise financeira global de 2008 ainda perdura na memória de muitas pessoas. Por isso, quando alguns bancos dos EUA (incluindo o Silicon Valley Bank, o Silvergate Bank e o Signature Bank) quebraram em março, foi compreensível ouvir questionamentos sobre a possibilidade de estarmos vivendo o início da crise financeira global 2.0 ("GFC 2.0"). Para entender se essa é uma comparação justa, vamos primeiro dar uma olhada no que realmente aconteceu naquela época.

A crise financeira global: o que aconteceu?

Foi a pior crise financeira desde a década de 1930 e causou abalos duradouros em todo o mundo.  A crise financeira global de 2007-2008 foi desencadeada por uma expansão excessiva do crédito canalizado através do mercado imobiliário que superestimou o valor dos preços dos imóveis nos Estados Unidos. À medida que a bolha imobiliária dos EUA estourou e mais pessoas deixaram de pagar seus empréstimos imobiliários, o valor dos instrumentos financeiros vinculados a esses empréstimos caiu a tal ponto que eles se tornaram inúteis. Esses instrumentos financeiros, conhecidos como títulos lastreados em hipotecas, foram colocados em "pacotes" e vendidos como investimentos para instituições financeiras em todo o mundo. De uma hora para a outra, esses investimentos sem valor causaram pânico generalizado e provocaram falências. Tudo começou com o colapso do banco americano Lehman Brothers em setembro de 2008, e os governos de todo o mundo tiveram que intervir, gastando grandes quantias para garantir que outras instituições não sofressem um destino semelhante.

Que lições aprendemos?

Antes de examinarmos os eventos mais recentes, vejamos algumas das lições aprendidas. A crise financeira global foi um duro, mas necessário, lembrete dos riscos envolvidos no sistema financeiro e do potencial de crises generalizadas se espalharem de uma instituição financeira para outra, em todo o mundo. Ficou nítida a necessidade de práticas de gestão de risco mais robustas nas instituições financeiras, maior transparência no setor financeiro e supervisão regulatória mais forte.

Os investidores também aprenderam algumas lições importantes. A crise confirmou a importância de conhecer bem os produtos em que se investe, fazer pesquisas, ter cuidado ao investir em momentos de superaquecimento de preços e lembrar que, se algo parece bom demais para ser verdade, geralmente é. A boa notícia é que a crise financeira global resultou em algumas mudanças importantes que visam garantir que uma situação semelhante não ocorra novamente. Aqui estão algumas das principais mudanças que foram implementadas:

1. Padrões de empréstimo melhorados
Uma das principais causas da crise foram os padrões de empréstimo desregrados, especialmente no mercado imobiliário dos Estados Unidos. Hipotecas estavam sendo aprovadas para mutuários que não podiam pagá-las, e os bancos não estavam sendo cuidadosos o suficiente para verificar se esses mutuários tinham a renda necessária para pagar seus empréstimos, principalmente se as taxas de juros começassem a aumentar. Mas desde a crise, os padrões de empréstimo tornaram-se muito mais rígidos. Os credores agora devem realizar verificações rigorosas da capacidade de pagamento do mutuário antes de emitir uma hipoteca. Isso inclui verificar sua renda e status de emprego, avaliar seu histórico de crédito e garantir que o mutuário não esteja contraindo muitas dívidas.

2. Regulamentos financeiros mais rígidos
A crise expôs uma série de lacunas e deficiências na supervisão das instituições financeiras. Como resultado, a maioria dos países que sofreram durante a crise aprovou regulamentos mais rígidos para essas instituições. Exemplos desses regulamentos incluem:

Então, o que deu errado com os bancos no início deste ano? Infelizmente, nenhuma regulamentação pode proteger contra decisões ruins. Nos casos do Silicon Valley Bank, Signature Bank e Silvergate Bank, todos os três estavam fortemente envolvidos em empréstimos para empresas do setor de tecnologia e tinham exposição significativa a criptomoedas. Embora esses bancos tenham investido seu capital em títulos de longo prazo do Tesouro dos EUA, o valor desses ativos caiu depois que o Federal Reserve dos EUA começou a aumentar as taxas de juros no país, no ano passado. A situação chegou ao auge quando os depositantes desses bancos começaram a pedir seus depósitos bancários, o que fez com que os bancos tivessem que começar a vender seus ativos, causando um colapso.

Seria o início de outra crise financeira?

No momento em que escrevo, parece que as dificuldades dos bancos americanos foram contidas. Os bancos que quebraram o fizeram por causa de decisões erradas e timing ruim, e isso não se espalhou pelo mundo como aconteceu 15 anos atrás. Mas o mais importante é que o mercado imobiliário dos EUA não corre o risco de entrar em colapso, o que foi um dos gatilhos da crise de 2008. Isso porque não há indícios de que hoje os preços mais altos de imóveis nos Estados Unidos sejam uma "bolha". Por exemplo, hoje um número maior de proprietários de imóveis nos EUA tem hipotecas de taxa fixa. Isso significa que seus pagamentos estão "amarrados" a uma taxa de juros mais baixa. Para evidenciar isso, de acordo com a Bloomberg, o número de hipotecas de taxa ajustável (ARMs), em que a taxa de juros muda à medida que as taxas de hipoteca mudam, atingiu o pico em 36,6% em março de 2005. No entanto, em setembro do ano passado, a US Mortgage Bankers Association confirmou que as ARMs representavam apenas cerca de 9% de todos os novos pedidos de empréstimos imobiliários.

E, acima de tudo, ter regulamentações atuais mais rígidas significa que todos os pedidos de hipotecas são examinados com muito mais cuidado para garantir que os potenciais mutuários ainda possam pagar seus empréstimos caso as taxas de juros subam significativamente.

Razões para ser positivo

Claro, é impossível afirmar que uma crise não possa ocorrer no futuro. Nenhum sistema é infalível e os riscos fazem parte do investimento. Assim, sempre haverá eventos isolados que afetam os investidores. Mas depois de um 2022 difícil, a resiliência do mercado imobiliário norte-americano em 2023 sugere que a página está sendo virada. Portanto, sugerimos que os investidores imobiliários continuem acompanhando de perto os principais indicadores das condições financeiras e do mercado imobiliário, como o índice Case-Shiller. Fazer a pesquisa necessária pode ajudar a responder a essas perguntas difíceis e dar uma melhor noção se é o momento certo para investir.


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